quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Conversas com o Ti Manel Cavaco


Ti Manel Cavaco é considerado um homem dos sete instrumentos, faz de tudo um pouco como se custuma dizer. No entanto, são as actividades agrícolas tradicionais que lhe preenchem a maior parte do tempo, quer seja na sua pequena horta, ou nos terrenos de sequeiro, ele anda sempre a fazer qualquer coisa, não é homem de ficar parado durante muito tempo. Uma das suas particularidades, além de ser um optimista que tem sempre uma solução para tudo, é a sua visão ecológica das coisas.


Fomos encontrar o Ti Manel Cavaco perto de casa quando regressava dos seus trabalhos no campo, com a enxada às costas e a assobiar as suas músicas.

- Bom dia Ti Manel, então como é que vai isso?

- Bom dia. Vai-se bem, labutando um pôco na ingrícola. Atão e tu moço? Como é que tás?

- Tá tudo bem. Então o que é se faz agora neste tempo, na agricultura?

- Olha fui ver as favas e os griséus qu’ ê tenho além na chapada. Fui pôr uns espantalhos por casa dos coelhos e dos pássaros, assim já eles na me estragam a semintêra. Depôs fui ver as farrobêras e descobri qu’ andavam lá os ratos a dar cabo daquela que tá mêmo no mêo da terra, até tá toda amarelada, sabes lá… é qu’ o raça dos bichos gostam muinto destas farrobêras de monturada.

- Então tem de pôr lá um pesticida para acabar com eles?

- Nã … ê tenho uma coisa melhor. É uma coisa que na estraga o imbiente e é más barato, já ouviste falar nas sabolas d’ almarrão?

- Cebolas albarrãs? Acho que o meu avô falava nisso …

- Pôs é, essas sabolas têm um chêro desquesito, acho qu’ aquilo até é venanoso e faz os ratos dêxarem as farrobêras em paz. Fui ó mato, andi a procura delas e consegui arranjar umas três, depôs fui samea-las à rés do tronco. Agora é só esperar uns tempos qu' eles desòpilam de lá.

- Quem sabe, sabe. O Ti Manel é muito ligado à ecologia.

- Pôs agora fala-se muinto nisso, mas ê cá sempre aprendi com os mês avozes qu’ as coisas devem ser fêtas respêtando a natureza e quase tudo tem serventia pra qualquer coisa, é o caso destas sabolas.

- Faz muito bem! Só tenho pena, de não ter ido consigo para tirar umas fotografias às cebolas, para pôr no meu blog.

- No tê quêm?

- No meu blog, Ti Manel. Aquela coisa da internet de que lhe falei no outro dia.

- Mas atão se tu queres pôr na intarnete, um retrato duma planta, ê tenho cá outra más bonita, é uma planta que tá florida neste tempo e até serve de árve de Natal. Olha nem corti nenhum pinhêro, nem tenho coisas de plástico, tenho uma planta com flores que se chama Estrela de Natal. A bem dizer na é minha, é da minha Carminha, mas anda cá ver e tira-lhe um retrato pra pores na intarnete.






- Realmente é bonita e serve perfeitamente de árvore de Natal exterior. Bem Ti Manel, obrigado por esta conversa, tenho de ir embora.

- Olha desejo-te um Ano Bom de 2010 e já agora tameim aquela famila que lê lá essas coisas, do tê blogue, saudinha e até à outra.

- Bom Ano para si também, ti Manel!


BOM ANO DE 2010 PARA TODOS!

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Poeta Aleixo



No dia em que passam 60 anos após a morte deste grande poeta, que muitos consideram o maior poeta popular português, não poderia deixar passar a oportunidade de prestar aqui a minha humilde homenagem. Já muito se disse sobre o Poeta Aleixo e a sua obra. Alguns dos seus versos já foram musicados e cantados, outros foram lembrados em livros, outros ainda, ditos na rádio e televisão, no entanto, penso que nunca é demais recordar este singular poeta.
Normalmente, olha-se para os poetas populares, como para meros fazedores de quadras, porventura com grande poder de improviso, mas que abordam sempre os assuntos de forma superficial, sem grande nível cultural. No caso de António Aleixo era diferente, aliava um elevado poder de sintetizar em poucas palavras, ideias com rico conteúdo a uma critica social acutilante, manifestando uma dolorosa filosofia aprendida na escola da vida.
Lembro-me da primeira vez que algo me chamou a atenção sobre a obra de António Aleixo. Certamente, já tinha ouvido algumas conversas dos meus pais e avós sobre o Poeta Aleixo, mas não me tinha apercebido da dimensão da sua poesia. Desta vez, andava eu na escola secundária, quando ao abrir o livro de filosofia, lá estava uma quadra do Aleixo:



Eu não tenho vistas largas,
Nem grande sabedoria,
Mas dão-me as horas amargas
Lições de filosofia.



Não era um livro qualquer, pensei eu, embora não quisesse menosprezar os outros livros, uma quadra do Aleixo num livro de filosofia, foi algo que me deixou a pensar. Aquela era afinal, mais que uma mera quadra de poeta popular, ela fazia transparecer capacidades intelectuais que eu não imaginava num poeta quase analfabeto. A partir daí, interessei-me pela sua obra, li as suas quadras, as suas glosas, os seus autos e fiquei maravilhado com a profundidade das suas palavras simples. Ficam aqui algumas das suas quadras:



(Algumas tão actuais …)



À guerra não ligues meia,
Porque alguns grandes da terra,
Vendo a guerra em terra alheia,
Não querem que acabe a guerra.



O mundo só pode ser
Melhor do que até aqui,
Quando consigas fazer
Mais p'los outros que por ti!



Sei que pareço um ladrão...
Mas há muitos que eu conheço
Que, não parecendo o que são,
São aquilo que eu pareço.



Ris de mim, mas eu de ti
Não me sei rir, nem preciso;
Quem tem juízo não ri
Dos que não têm juízo.



Nos versos que se improvisem,
Os poetas sabem ler,
Para além do que eles dizem,
Tudo o que querem dizer.



Quem prende a água que corre
É por si próprio enganado;
O ribeirinho não morre,
Vai correr por outro lado.



Eu não sei porque razão
Certos homens, a meu ver,
Quanto mais pequenos são
Maiores querem parecer.



Não sou esperto nem bruto,
Nem bem nem mal educado:
Sou simplesmente o produto
Do meio em que fui criado.



Uma mosca sem valor
Poisa c’o a mesma alegria
Na careca de um doutor
Como em qualquer porcaria.



Julgando um dever cumprir,
Sem descer no meu critério,
- Digo verdades a rir
Aos que me mentem a sério!


Que importa perder a vida
Na luta contra a traição
Se a razão mesmo vencida
Não deixa de ser razão.







Para saber mais sobre o poeta procure sitio da Fundação António Aleixo:

http://www.fundacao-antonio-aleixo.pt/default.asp


sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Ribeira de Quarteira

A Ribeira de Quarteira é o resultado da junção de várias outras que serpenteiam pelos vales do interior do Algarve, nomeadamente a Ribeira de Algibre e a Ribeira de Alte e vai desaguar entre a Marina de Vilamoura e a Praia da Rocha Baixinha (também lhe chamam Praia da Falésia). De um lado temos os hotéis e aldeamentos de luxo, do outro, uma praia ainda sem grandes construções (felizmente!) e com bonitas falésias, apesar da sua degradação.
Ao lado de uma zona turística densamente construída, como é o caso de Vilamoura, ainda podemos encontrar pequenos recantos quase selvagens, onde é possível apreciar a natureza.







terça-feira, 13 de outubro de 2009

Limpar o Algarve, limpar Portugal!

Vamos todos limpar Portugal em 20/03/2010!


Deixo aqui a divulgação desta iniciativa que me pareceu ser bastante importante, que contribuirá certamente para a melhoria do ambiente no Algarve e sobretudo para dar um abanão nas nossas mentalidades (às vezes, pouco ecológicas!).


O Movimento Limpar Portugal é um movimento cívico cujo objectivo é promover a educação ambiental por intermédio da iniciativa de limpar a floresta portuguesa no dia 20 de Março de 2010.

http://limparportugal.ning.com/

Esta iniciativa pretende reeditar em Portugal uma operação de limpeza da floresta que ocorreu na Estónia em Março 2008.

http://www.youtube.com/watch?v=ctjJps7SmEI



quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Recordações: é dia 8 de Outubro ... que chatice, já nã posso ir armar!

Estava uma bela manhã de Outubro, tinha acabado de me levantar e fui assumar-me à janela para ver como estava o tempo. O sol despontava por entre os montes e uma brisa suave fazia sentir o cheiro da terra. Tinha chovido durante a noite e agora com os primeiros raios de sol, os pássaros esvoaçavam e não paravam de chilrear. Mesmo ali ao lado, no quintal, conseguia distinguir o canto dos piscos e dos taralhões, certamente andavam a comer os bichinhos dos figos que ainda estavam no almenchar.



Pisco



Taralhão



O tempo estava mesmo bom como eu gostava, para ir armar umas ratêras aos pássaros: tinha chovido, estava sol e vento era fraco. O dia iria certamente proporcionar uma grande caçada, estava decidido, eu ia armar. Peguei em meia dúzia de figos amendoados para matar o jejum e disse à minha mãe:
- Mãe, vou armar.
- Na vás sem comer – respondeu-me ela.
- Como quando voltar, já devia ter abalado.
Peguei no molho das ratêras, num canudo de agúidas, no sacho para fazer os poisos e lá fui todo entusiasmado. Ainda voltei para trás, faltava uma coisa, a fisga, podia fazer falta!



Agúida


Ia pelo caminho a planear mentalmente a minha caçada, quando ouvi alguém dar devaia. Era o Paulo, o meu vizinho, colega de escola e de caçadas.
- Mas aonde é que tu vás hoje? – Perguntou-me ele.
- Olha, vou armar, tamêm queres ir?
- Mas hoje é dia 8 de Outubro! – Disse-me ele com uma expressão de admiração.
- Atão, ... qual é o problema? – Perguntei-lhe, ainda mais admirado.
- Começa a escola, já nã ta lembras?
- Ei, é dia 8 de Outubro… que chatice, já na posso ir armar, hoje é o primêro dia de escola!

Ao fim de mais de três meses, as férias grandes tinham terminado. Nem eu nem a minha mãe nos lembramos que era dia 8 de Outubro e todos os anos nesse dia começava a escola. Era assim antigamente, nos tempos da minha infância. Uns dirão que era melhor, outros que era pior, de uma coisa eu tenho a certeza, era diferente e era bom, a escola … e a escola da vida!




Significados de algumas das algraviadas:

- assumar-me --> espreitar
- almenchar --> espaço onde os agricultores secavam os figos
- figos amendoados --> figos cheios com amêndoas
- armar --> caçar pássaros com ratoeiras utilizando como isco as agúidas
- abalar --> ir embora, partir
- ratêras --> ratoeiras, armadilhas de arame que também servem para caçar pássaros
- agúidas --> (a letra u é sonora) formigas de asas, conhecidas noutras regiões do país como agúdias
- poisos --> montículos de terra, onde se colocam as ratêras com alguma inclinação para que os pássaros vejam a agúida.
- dar devaia --> chamar


NOTA: A caça de pássaros é proibida por lei, visto serem espécies em extinção , no entanto, esta actividade era em tempos, culturalmente bem aceite em muitas regiões e praticada por qualquer criança do campo.

domingo, 27 de setembro de 2009

Chaminés algarvias e outros elementos arquitectónicos

Na arquitectura tradicional do Algarve, com forte influência árabe, predominam as casas pintadas de branco (antigamente caiadas), os típicos telhados de telha mourisca, açoteias, os plantibandas com decorações coloridas e as famosas chaminés rendilhadas. Entre estes, o elemento de maior destaque são as chaminés, também consideradas um dos símbolos do Algarve, reflectem a sua história, o gosto e as necessidades concretas das gentes Algarvias.

A cal é usada no Algarve desde a época da ocupação muçulmana, que durou cerca de cinco séculos. A cal é o resultado da queima de pedras calcárias, a elevadas temperaturas. Esta cal à qual se adiciona água torna-se na matéria com que se pintavam as paredes.

As telhas mouriscas ou de canudo são telhas em forma de meia cana, ligeiramente cónicas. Este tipo de telhas era utilizado em quase todos os telhados algarvios.
As açoteias, são terraços que servem de telhado, onde se secam os figos, e as amêndoas, serviam também para apanhar o fresco nas noites quentes de Verão.

Os plantibandas, com utilidade meramente decorativa, protegem as açoteias e rematam as fachadas principais, tomando várias formas geométricas e decorados com diversas cores.

As chaminés algarvias, além da utilidade normal desempenhavam também um papel ornamental, tomavam as formas mais variadas, desde as que apresentam simples ranhuras, às que ostentam complicados e belos rendilhados. Muitas delas assemelhavam-se a miniaturas de torres ou dos minaretes árabes. Podiam ter secção circular, quadrada ou rectangular, mais simples ou mais elaboradas, mas tinham sempre uma forma bastante artística . Há-as de todos os modelos e para todos os gostos, só tendo como limite a imaginação de quem as faz, eram uma prova de perícia para cada pedreiro e um motivo de orgulho para qualquer proprietário.

Actualmente a construção de chaminés é um pouco diferente, já não é um trabalho artístico como antigamente, mas na maior parte das vezes é a montagem de modelos pré-fabricados. Por vezes surgem também novas cores, resultado de influências estrangeiras.

As chaminés algarvias são um património arquitectónico regional que deve ser conhecido, preservado e divulgado. Muitas das chaminés antigas, com o passar dos anos vão-se deteriorando, tornando-se assim necessário, que organismos ligados à conservação do património façam um levantamento desta herança e a consequente preservação.

















quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Empreita - artesanato de palma

A empreita de palma é uma das principais formas de artesanato do Algarve. Já foi uma actividade com bastante peso no orçamento de muitas famílias do Barrocal Algarvio, hoje em dia, embora ainda seja um tipo de artesanato representativo, já não tem a importância de outrora. Este tipo de artesanato era tradicionalmente um trabalho feminino efectuado principalmente, quando não havia trabalho no campo, funcionava como que um complemento no trabalho das mulheres.

Artesãs de empreita


A empreita é uma fita entrançada, feita de palma que são as folhas de uma espécie de palmeira anã da região, com ela são efectuados diversos objectos. Inicialmente esta matéria-prima provinha do interior do Algarve, crescia nos matos do Barrocal, posteriormente devido à escassez desta planta, começou a ser importada do sul de Espanha.

Palmeira


Este tipo de artesanato surgiu das necessidades ligadas aos trabalhos dos campos, era necessário ter recipientes para embalar e transportar os produtos agrícolas. Assim, existem uma variedade de objectos e utensílios ligados à agricultura: alcofas, cestos, gorpelhas, esteiras, ceiras, … etc.

Alcofa utilizada nos trabalhos agrícolas e bolsa para transportar os alimentos para o campo



Mais tarde a empreita passou a ser utilizada no fabrico de objectos do quotidiano: chapéus, vassouras, vasculhos, capachos, tapetes, abanos, bases para a mesa, fruteiras, sacos diversos, revestimentos para garrafas e garrafões de vidro e até a estrutura de berços de bebé era feita com empreita.

Base para a mesa

Fruteira


Actualmente, a empreita é utilizada quase exclusivamente com finalidades decorativas sendo uma das atracções turísticas do Algarve.
O fabrico dos objectos em empreita divide-se em várias fases:
- Em primeiro lugar é preciso preparar as folhas de palma (fervas de palma). A palma ou era colhida no mato e colocada a secar ao sol ou era comprada já seca.

Palma a secar


- Seguidamente é escolhida, pois a mais grosseira é para utensílios menos exigentes, a outra é tratada.

- A palma é então molhada para que seja mais fácil manuseá-la.

- A fase seguinte é enxofrar a palma, processo para clarear a palma através de um banho de vapores de enxofre. O enxofre é colocado a arder num recinto fechada junto da palma, este processo dura pelo menos um dia.

- Depois é rachada que é o processo em que se separam as folhas.

Um "olho" de palma rachada e outro ainda não rachado


- Se as folhas são muito largas, ripa-se para que as fitas fiquem quase uniformes.

- Por vezes utiliza-se alguma palma tingida, para produzir efeitos artísticos nos objectos, esse tingimento é obtido passando a palma por um banho de água quente onde se depositou a tinta.

- Depois de enxofrada e pintada a cada “olho” de palma corta-se o pé para soltar as folhas.

- Com a palma assim preparada, e depois de molhada, começa-se então a fazer uma comprida fita entrançada.


- Esta empreita que costuma ser medida às "braças" é enrolada e pode ser novamente enxofrada.

- Posteriormente, com a ajuda de uma agulha de cobre, a empreita é cosida com folhas finas de palma molhada para ficar mais flexivel, ou com baracinhas. As baracinhas são um fino cordão feito com palma enrolada.

- Depois de o objecto adquirir forma são necessários acabamentos: o debruar para rematar o bordo do objecto, as asas quando necessário que são feitas em baracinhas, finalmente cortam-se as pontas de palma que ficam a sobressair e está pronto.

Saco de empreita



Base para a mesa


Tapete e vários sacos em empreita na Feira do artesanato de Quarteira




Abanos e outros utensílios


Diversos tipos de sacos


Sacos, capacho e vassoura

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Varejo - a apanha dos frutos secos

A agricultura de sequeiro foi outrora, uma das principais actividades económicas do interior algarvio. A principal vertente desta actividade era a cultura dos frutos secos, em que se destacavam a alfarroba (farroba), a amêndoa e o figo. Hoje em dia, poucos são aqueles que continuam a trabalhar no campo, no entanto, esta actividade ainda continua a ser um dos simbolos do Algarve. Nos meses de Agosto e Setembro, é efectuada a importante tarefa da apanha dos frutos, o "varejo" com se diz no Algarve.

Pomar tradicional de alfarrobeiras



Pequena alfarrobeira carregada de alfarrobas

Ramos com alfarrobas




Amendoeira com amêndoas



Amêndoas


Figueira
Figueira com figos secos

Figos maduros

Figos quase secos

Esta tarefa da apanha dos frutos ainda hoje é um trabalho duro, mas antigamente era muito mais, pois não havia a ajuda de tractores para o transporte dos frutos dos campos para casa e também porque se trabalhava de sol a sol.

O varejo é uma actividade que é feita à custa de muito trabalho manual. Com a ajuda de varas de madeira compridas, tradicionalmente compradas nas feiras, ou com canas, bate-se nos ramos da árvore, fazendo cair os frutos que depois são apanhados no chão ou em “panos” de matéria plástica, utilizados hoje em dia. Antigamente os agricultores não possuíam estes “panos” e então, algum tempo antes do varejo, o chão debaixo das árvores e em seu redor era limpo, retirando folhas, ramos e arbustos para facilitar a apanha dos frutos. No varejo dos figos, por vezes não se utilizava uma vara mas sim um “caimbo” que é uma cana com um pequeno pauzinho colocado na extremidade para ajudar a derrubar os figos, em vez de bater nos ramos puxa-se o figo com o “caimbo” ou puxa-se o ramo para colher o figo à mão.

A apanha das amêndoas

Os recipientes utilizados para colocar os frutos são as tradicionais alcofas de empreita e cestos de vime e cana. À medida que os frutos vão sendo apanhados das árvores, vão sendo colocados em recipientes adequados ao seu transporte para casa. No caso das amêndoas e das alfarrobas, utilizam-se grandes sacas de linhaça, no caso dos figos usam-se alcofas grandes de empreita ou canastas de vime e cana.

Sacos de alfarroba

Alcofa com figos



Os utensílios do varejo: vara, alcofa, saco e panos

Actualmente, o meio de transporte mais utilizado são os tractores agrícolas, no entanto noutros tempos, esta operação era feita com a ajuda de animais, normalmente burros ou mulas.


Tractor para transportar os frutos


Em primeiro lugar coloca-se a albarda no animal presa com a cilha. A albarda é parecida a uma cela mas de maior tamanho e serve para suportar a carga e para proteger o dorso do animal. Depois, coloca-se dois ou três sacos em cima da albarda suportados por cordas e presos com um utensílio idêntico à cilha a que chamam “sobrecarga”. Esta corda envolve a carga e o animal e depois é apertada com a ajuda de um pau curvo chamado “garrocho”. No transporte dos figos, por vezes o processo era um pouco diferente, as alcofas ou as canastas não eram colocadas directamente em cima da albarda, mas sim de uma armação em madeira, chamada “cangalhas”. Estas “cangalhas” também serviam para o transporte de “cântaros” de água. Recorde-se na maior parte das vezes depois de chegar a casa depois de um dia de varejo era necessário ir à água ao poço.


Burro com cangalhas e cântaros

Algumas das pessoas, possuiam as famosas carroças pintadas com cores garridas, puxadas pelos animais. Desta forma podiam transportar maiores quantidades.

Chegados a casa do agricultor, enquanto as alfarrobas estão em condições de serem guardadas, as amêndoas precisam ser descascadas, operação em que se retira a casca exterior e depois são colocadas a secar ao sol. Os figos também são colocados a secar ao sol em esteiras de canas. Antigamente, os agricultores tinham o hábito de reservarem um espaço no quintal, que era vedado com canas e ramos de arbustos colhidos no mato, onde eram colocadas as esteiras dos figos. A este espaço chamava-se "almenchar".

Amêndoas descascadas a secar ao sol



Ficos a secar ao sol em cima de uma esteira de cana


Posteriormente estes frutos são vendidos aos grandes comerciantes e intermediários de frutos secos. A unidade de peso que era utilizada era a arroba (15 Kg) e ainda hoje, os agricultores mais antigos fazem as suas contas com essa unidade.

Antigamente, era hábito que a partir do dia 29 de Setembro, dia de São Miguel, acabava o "varejo" e começava o "rabisco". Nesta fase considerava-se que os frutos que ainda estivessem nas árvores já não eram colhidos pelos seus proprietários e qualquer pessoa podia fazer a sua apanha. Normalmente eram as pessoas mais necessitadas e as crianças que se dedicavam a esta tarefa.

CURIOSIDADE: O candeio é a flor da alfarrobeira, é daqui destas espigas floridas que começam a surgir as pequenas alfarrobas. Estas, desenvolvem-se ao longo de vários meses. O ciclo de vida da alfarroba é ligeiramente superior a um ano, pois quando se colhem as alfarrobas, já existe uma boa parte do candeio que dará a colheita do ano seguinte.

Candeio de alfarroba
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Fontes: http://www.prof2000.pt/users/avcultur/Postais