terça-feira, 17 de novembro de 2009

Poeta Aleixo



No dia em que passam 60 anos após a morte deste grande poeta, que muitos consideram o maior poeta popular português, não poderia deixar passar a oportunidade de prestar aqui a minha humilde homenagem. Já muito se disse sobre o Poeta Aleixo e a sua obra. Alguns dos seus versos já foram musicados e cantados, outros foram lembrados em livros, outros ainda, ditos na rádio e televisão, no entanto, penso que nunca é demais recordar este singular poeta.
Normalmente, olha-se para os poetas populares, como para meros fazedores de quadras, porventura com grande poder de improviso, mas que abordam sempre os assuntos de forma superficial, sem grande nível cultural. No caso de António Aleixo era diferente, aliava um elevado poder de sintetizar em poucas palavras, ideias com rico conteúdo a uma critica social acutilante, manifestando uma dolorosa filosofia aprendida na escola da vida.
Lembro-me da primeira vez que algo me chamou a atenção sobre a obra de António Aleixo. Certamente, já tinha ouvido algumas conversas dos meus pais e avós sobre o Poeta Aleixo, mas não me tinha apercebido da dimensão da sua poesia. Desta vez, andava eu na escola secundária, quando ao abrir o livro de filosofia, lá estava uma quadra do Aleixo:



Eu não tenho vistas largas,
Nem grande sabedoria,
Mas dão-me as horas amargas
Lições de filosofia.



Não era um livro qualquer, pensei eu, embora não quisesse menosprezar os outros livros, uma quadra do Aleixo num livro de filosofia, foi algo que me deixou a pensar. Aquela era afinal, mais que uma mera quadra de poeta popular, ela fazia transparecer capacidades intelectuais que eu não imaginava num poeta quase analfabeto. A partir daí, interessei-me pela sua obra, li as suas quadras, as suas glosas, os seus autos e fiquei maravilhado com a profundidade das suas palavras simples. Ficam aqui algumas das suas quadras:



(Algumas tão actuais …)



À guerra não ligues meia,
Porque alguns grandes da terra,
Vendo a guerra em terra alheia,
Não querem que acabe a guerra.



O mundo só pode ser
Melhor do que até aqui,
Quando consigas fazer
Mais p'los outros que por ti!



Sei que pareço um ladrão...
Mas há muitos que eu conheço
Que, não parecendo o que são,
São aquilo que eu pareço.



Ris de mim, mas eu de ti
Não me sei rir, nem preciso;
Quem tem juízo não ri
Dos que não têm juízo.



Nos versos que se improvisem,
Os poetas sabem ler,
Para além do que eles dizem,
Tudo o que querem dizer.



Quem prende a água que corre
É por si próprio enganado;
O ribeirinho não morre,
Vai correr por outro lado.



Eu não sei porque razão
Certos homens, a meu ver,
Quanto mais pequenos são
Maiores querem parecer.



Não sou esperto nem bruto,
Nem bem nem mal educado:
Sou simplesmente o produto
Do meio em que fui criado.



Uma mosca sem valor
Poisa c’o a mesma alegria
Na careca de um doutor
Como em qualquer porcaria.



Julgando um dever cumprir,
Sem descer no meu critério,
- Digo verdades a rir
Aos que me mentem a sério!


Que importa perder a vida
Na luta contra a traição
Se a razão mesmo vencida
Não deixa de ser razão.







Para saber mais sobre o poeta procure sitio da Fundação António Aleixo:

http://www.fundacao-antonio-aleixo.pt/default.asp